Internacional
Especialistas apontam aprendizados da pandemia
Hábitos alimentares mais saudáveis, prática de atividade física regular e a importância dos exames preventivos são apenas alguns dos legados da covid-19
Os especialistas concordam que já aprendemos muito: os riscos da obesidade, do sedentarismo e do consumo de alimentos ultraprocessados, entre outros. Tudo isso fez com que a sociedade percebesse com mais clareza que as questões de saúde são essenciais para a vida. As novas perspectivas sociais são acompanhadas de cautela e de um alerta importante: a ciência e a medicina salvam vidas.
Perguntamos a cinco especialistas diferentes do Hospital Águas Claras quais os maiores legados da pandemia e do distanciamento social em suas respectivas áreas: infectologia, pneumologia, ortopedia, nutrologia e cardiologia. Confira a seguir:
Infectologista
A pandemia nos mostrou a necessidade de adoção de hábitos que já eram necessários, além de nos fazer progredir em mudanças que demoraríamos décadas para implementar voluntariamente. A necessidade de boa higienização das mãos, prática defendida desde o século XIX, vem sendo repetida como mantra desde o início da pandemia. Um gesto tão simples e antigo, mas que ainda estava longe de ser uma realidade incorporada à nossa rotina diária. Agora, esta é uma prática regular e que deve e precisa ser mantida, pois, além de ajudar a controlar a transmissão do novo coronavírus, também faz parte da prevenção de outras doenças.
Ana Helena Germoglio, infectologista e coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Águas Claras
Ortopedista
Durante a pandemia, muitas pessoas tiveram que mudar seus hábitos de exercícios físicos. Com as academias fechadas, precisaram encontrar uma nova forma de se exercitar. Foram então incorporadas atividades físicas ao ar livre e exercícios feitos em casa. Por meio de lives ou por vídeos gravados, muitas pessoas se mantiveram ativas. Neste último caso, é importante ressaltar o cuidado com a atividade on-line. O ideal é, sempre que possível, ter um profissional que acompanhe o exercício.
A consolidação da prática de home office também foi uma grande mudança e teve relação direta nos aspectos ergonômicos. Surgiram vários casos de dores devido à má postura e às mudanças exigidas pelo trabalho em casa. Foi preciso adaptar cadeiras, locais de trabalho e altura das mesas e dos computadores. Dentro da ortopedia, de uma forma geral, tudo isso precisa ser levado em consideração no “novo normal”, em especial pelas pessoas que vão manter esse estilo de vida e de trabalho daqui para frente.
Luiz Fernando Borges Filho, ortopedista e traumatologista, especialista em cirurgia de joelho e coordenador da ortopedia do Hospital Águas Claras
Pneumologista
As máscaras ainda vão fazer parte da nossa rotina por um bom tempo. Até que tenhamos uma vacina disponível e grande parte da população imunizada, temos a necessidade do uso da proteção. Mesmo depois, a tendência é que o hábito seja incorporado, especialmente nos cuidados com as infecções virais. Pessoas com sintomas de doenças respiratórias contagiosas devem seguir as mesmas orientações de agora, como evitar o contato com outras pessoas, usar máscara ao sair de casa, passar álcool gel e lavar as mãos com frequência. A intenção é diminuir a disseminação das doenças infecciosas, até porque a gente consegue controlar doenças e comorbidades com hábitos de vida saudáveis, exercícios físicos e com visitas periódicas ao médico.
Acredito que a pandemia aumentou a consciência sobre a necessidade de fazer mudança no estilo de vida e o ideal é que continue assim, principalmente nos grupos de risco: idosos, pessoas com comorbidades ou alteração da imunidade e pacientes quimioterápicos, por exemplo. Estas pessoas, sem dúvida, devem sempre fazer o uso de máscara, evitar aglomerações e manter hábitos de higiene.
Thiago Fuscaldi, pneumologista intensivista do Hospital Águas Claras
Nutrologia
Cada vez fica mais clara no meio científico a relação da obesidade com a gravidade da Covid-19. Pacientes obesos têm quatro vezes mais chance de óbito pela doença do que pacientes não obesos. Entretanto, o isolamento social, a alimentação frequente em casa e o menor acesso a alimentos frescos, levou a um aumento de consumo de alimentos processados, fast food e delivery, contribuindo assim para um ganho de peso considerável durante a pandemia. Isso, sem contar o aumento do sedentarismo por conta da falta de exercícios físicos.
O segredo para mudarmos esse cenário é informação de qualidade. Na alimentação, é importante organizar as comidas em casa para que sejam mais adequadas. É possível pedir delivery, mas que sejam comidas mais saudáveis. Outro ponto importante é estar atento/a às porções de alimentos consumidos. A quantidade, principalmente daqueles muito calóricos, pode ser o principal problema relacionado ao ganho de peso. Além disso, é importante limitar o sal, o açúcar e a gordura; aumentar o consumo de fibras, frutas, verduras e alimentos integrais; beber mais água e evitar o hábito de consumir bebidas alcoólicas diariamente. Não podemos esquecer também da prática de exercícios físicos regulares, em casa ou ao ar livre. Por fim, mas não menos importante, evitar passar o dia todo sentado ou deitado.
Juliana Tepedino, nutróloga e coordenadora da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional do Hospital Águas Claras
Cardiologista
A pandemia mudou drasticamente os hábitos de vida das pessoas. Para alguns, houve o aumento no consumo de álcool, tabaco e fast food. Isso contribuiu para o aumento da obesidade e descontrole de doenças cardiovasculares. Entretanto, como o período de confinamento foi longo, também ocorreram mudanças positivas na alimentação e na conscientização para a atividade física. À medida que as pessoas estão retornando à rotina gradualmente, elas enxergam a importância do autocuidado. Prova disso é que houve um recente aumento nas avaliações cardiológicas, o que leva ao melhor controle de doenças que representam um risco maior para pacientes com Covid-19.
Neste sentido, é importante salientar que os hábitos saudáveis associados à prática de atividade física reduzem em mais de 60% o risco de doenças cardiovasculares. Assim, posso destacar que um dos aprendizados da pandemia é justamente a maior atenção à própria saúde.
Edson Davila, cardiologista e coordenador da cardiologia da Rede Ímpar Brasília
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