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O país que construiu mais de 100 mil bunkers durante a Guerra Fria

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É uma manhã de primavera e o sol já está a pino. Estou atravessando as ruínas de Orikum, um assentamento da era romana que fica no extremo sul da baía de Vlore, na costa adriática da Albânia. Trata-se de um patrimônio cultural incrivelmente bem preservado, que inclui um teatro que ainda mantém muitos dos seus degraus de pedra.

Mas não estou aqui por isso.

Há uma outra ruína próxima ao assentamento em Orikum, embora com menos de meio século de vida e muito menos celebrada. Ali, funcionou a caserna da base naval de Pasha Liman, que pode ser vista do outro lado da estrada.

Meu guia, Elton Caushi, brinca que estamos ignorando uma ruína de 2 mil anos em favor de uma outra de 40.

Entre as ruínas da caserna e a estrada, há um punhado de bunkers. São atarracados e cinzentos, com espaço suficiente apenas para duas pessoas. Estão aqui desde os anos 1970, quando a Albânia era um dos países mais isolados da Terra.

Os bunkers foram ideia de Enver Hoxha, que governou a Albânia do pós-guerra por 40 anos com mão de ferro. Seu regime era tão brutal quanto surreal.

Convencido de que todos, desde a vizinha, a antiga Iugoslávia, até a Grécia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e até mesmo seus ex-aliados na União Soviética queriam invadir seu país, Hoxha deu aval à construção de milhares dessas estruturas por todo o país – uma estimativa conservadora gira em torno de 100 mil.

Até hoje, estão por todo o lugar, desde o interior até praias desertas, passando por vales montanhosos, encruzilhadas e praças. Seu legado, portanto, não é apenas físico, mas também financeiro: cada um deles teria custado o equivalente a um apartamento de dois quartos, e sua construção, sem dúvida, ajudou a transformar a Albânia em um dos países mais pobres da Europa.

‘Sempre prontos’
Hoxha cunhou um termo para descrever esse estado de prontidão dos albaneses: gjithmone gati, ou «sempre prontos». Tal sentimento veio em parte de suas experiências na Segunda Guerra Mundial.

As forças armadas pequenas e mal equipadas da Albânia foram esmagadas quando a Itália fascista invadiu o país em 1939. O conflito terminou oficialmente depois de apenas cinco dias. Mas a resistência, não.

A Albânia é um país montanhoso, perfeito para a guerra de guerrilhas, e seu povo ganhou a reputação de resistir ferozmente a invasores ao longo dos séculos. Com o avanço da guerra, um movimento partidário albanês, ajudado por camaradas na Iugoslávia ocupada e seus aliados britânicos e americanos, começou a atacar os ocupantes italianos e alemães.

Entre os principais integrantes da resistência, estavam os comunistas liderados por Hoxha.

Quando o vento passou a soprar a favor dos Aliados, a resistência albanesa cresceu, ganhando força nos esconderijos das montanhas. Na época em que libertaram a capital, Tirana, em novembro de 1944, esse exército de comunistas e nacionalistas chegava a 70 mil homens.

Depois que a Segunda Guerra Mundial terminou, Hoxha consolidou-se no poder, exterminando impiedosamente facções rivais e até mesmo alguns de seus colegas líderes da resistência. A Albânia tornou-se um Estado comunista alinhado com os soviéticos.

O pequeno país passou, então, a sofrer uma crise diplomática após outra. Em 1947, Hoxha rompeu relações com a vizinha Iugoslávia, sob o argumento de que os iugoslavos estavam se desviando do verdadeiro caminho do socialismo.

Em 1961, a Albânia voltou a causar um problema para si mesma, depois de Hoxha criticar o sucessor de Josef Stalin, Nikita Khrushchev, de instinto reformista, no comando da União Soviética. Os soviéticos e os outros países do Pacto de Varsóvia congelaram as relações com os albaneses, forçando-os a se alinhar com a China de Mao Tsé-Tung.

Mas essa lua de mel também teve vida curta. Furioso com as boas vindas de Mao ao então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, que visitou Pequim em 1972, Hoxha tratou de esfriar as relações com os chineses. Em 1978, a China já havia retirado todos os seus diplomatas do país, deixando a Albânia sem aliados – e tornando-a o país mais isolado do mundo.

Início da ‘bunkerização’
Foi nesse cenário que a «bunkerização» começou. O socialismo linha-dura o tornou vulnerável, pensou Hoxha, aos ataques da Otan vindos da Itália ou da vizinha Grécia. Mas ele também havia transformado antigos amigos em inimigos. Uma invasão poderia vir até mesmo da Iugoslávia.

As pequenas forças armadas da Albânia não teriam poder de fogo suficiente para repelir um ataque. Pensando nisso, Hoxha convocou a população para formar uma imensa resistência. Grande parte das pessoas passou por treinamento militar básico.

Durante a Segunda Guerra Mundial, isso teria sido feito a partir de esconderijos nas montanhas, onde pequenas unidades realizariam ataques aos postos avançados italianos ou alemães em terrenos mais baixos. Mas Hoxha queria ter certeza de que qualquer invasor em potencial seria impedido de atacar primeiro, e criou uma vasta rede de bunkers. Assim, os albaneses passaram a conviver com eles em praias, vilarejos e encruzilhadas.

Essa resistência a nível nacional exigiria um projeto de construção de grande vulto. A Albânia se tornaria uma terra coberta de bunkers.

Os mais numerosos foram o QZ (Qender Zjarri ou «posição de tiro»). Projetado para acomodar apenas uma ou duas pessoas, eles foram construídas com concreto armado.

Seu projetista foi Josif Zagali, um engenheiro filiado ao partido comunista de Hoxha durante a Segunda Guerra Mundial. Zagali montou uma cúpula arredondada no topo do bunker, de modo que balas e fragmentos de granada pudessem ser repelidos, dando ao QZ sua forma característica.

Esses bunkers seriam construídos em pequenos números que poderiam se defender mutualmente. Suas peças foram projetadas para serem pré-fabricadas e depois montadas no local.

Já os bunkers maiores, de comando artilharia, conhecidos como PZs (Pike Zjarri ou «ponto de disparo») tinham mais de 8m de diâmetro. Em caso de guerra, eles atuariam como postos de comando para fileiras de QZs menores.

Bunkers ainda maiores foram construídos para proteger os civis em caso de ataque. Cada cidade ou distrito teria bunkers de concreto subterrâneos grandes o suficiente para abrigar centenas de pessoas.

Em 2016, numa viagem anterior à Albânia, visitei um dos antigos abrigos em Gjirokaster, uma cidade de 25 mil pessoas a cerca de três horas de viagem ao sul de Tirana. Era grande o suficiente para acomodar facilmente centenas de pessoas.

Um dos encarregados da construção dessas estruturas foi Pellumb Duraj, comandante de um destacamento de engenharia baseado em Burell, no norte da Albânia.

Ele se formou como engenheiro civil em 1973 e foi um dos primeiros recrutados diretamente para trabalhar no Exército. «Fui designado para lá. Não tive escolha», ele me diz, tomando café do lado de fora de uma padaria na capital.

«Havia uma necessidade de maior proteção porque a Albânia deixou o Pacto de Varsóvia, e nós estávamos sozinhos em nossa perspectiva política e tínhamos medo de bombas atômicas e da ameaça americana, então, essa situação levou o governo a defender a construção de bunkers. Isso aconteceu em 1968, quando saímos do Pacto de Varsóvia».

«Esse processo se deu com maior intensidade a partir de 1975. Tivemos de fazer os estudos dos projetos para preparar o caminho para a construção dos bunkers. Até então, o Exército não tinha engenheiros civis, contratavam-nos de vez em quando», conta.

Era parte do trabalho de Duraj garantir que as peças do bunker não fossem apenas produzidas e transportadas para o lugar certo, mas também que houvesse pessoas suficientes no local para montá-las. E essa não foi uma tarefa simples: a divisão do Exército à qual Duraj foi designado tinha 13 mil bunkers de vários tamanhos para construir.

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‘Missão monumental’
Construir os bunkers foi uma missão tão monumental que quase todas as grandes fábricas da Albânia se envolveram. Fábricas de cimento produziam placas de concreto pré-fabricadas que um exército de trabalhadores montaria in loco. Com a ajuda da China, uma nova e monumental fábrica de aço foi construída em 1974 para produzir metal, grande parte com o objetivo de reforçar os bunkers de Hoxha.

Duraj teve de negociar com as associações encarregadas pelos assentamentos rurais, organizados de forma muito parecida com as fazendas coletivas na União Soviética.

«Não tínhamos experiência, então, foi o começo de um novo desafio, muito difícil. De certa forma, poderíamos dizer que todo o país estava envolvido nesse processo. A administração coube aos militares, mas a população se responsabilizou pelo trabalho pesado. Empresas de construção civil produziriam os bunkers, as empresas de transporte público os transportariam para o campo e, então, teríamos que contratar pessoas in loco de acordo com suas habilidades. O trabalho não qualificado era feito por soldados», relembra.

Os pequenos bunkers QZ eram apenas a ponta do iceberg no que dizia respeito às responsabilidades de Duraj.

«Além dos pequenos bunkers, dos firepoints, tínhamos de também construir posições para armas antiaéreas e para artilharia, e também armazéns e depósito para a munição, tivemos de construir as trincheiras conectando todos os prédios de armazenamento e os bunkers. Tivemos de lidar com todas as comunicações entre eles. Também lidamos com pontos de comando para todos os militares, túneis ou construções subterrâneas. O armazenamento de munições foi construído por nós, assim como depósitos de combustível, alimentos e roupas e depósitos de produtos químicos.»

Até as localizações dos bunkers implicariam mudanças em seu design, diz Duraj. «Na parte ocidental, começando pelo mar, construímos bunkers de peça única que eram pesados, pesavam cerca de sete toneladas, porque estávamos com medo de que uma invasão provavelmente viesse pelo mar. Essas estruturas tinham uma placa de ferro reforçada que os protegeria de mísseis e balas.»

«Nas montanhas, os bunkers eram mais leves porque eram projetados para serem carregados por mulas e homens, e o componente mais pesado pesava 100 kg. Mas construir um bunker do tipo montanha necessitaria 70 componentes diferentes. Então, tivemos de conectá-los com ferro e cimento.»

Engenheiros como Duraj estavam realizando uma tarefa sem comparação no mundo moderno. Buscando inspiração, observaram algumas das imensas fortificações construídas na Europa antes e durante a Segunda Guerra Mundial, como a Linha Maginot, que os franceses construíram em meio ao medo de uma invasão alemã na década de 1930.

«Estudamos o que eles fizeram, mas o que construímos não foi uma fortificação de uma linha, mas a fortificação de todo o país – do litoral até o topo da montanha.»

Duraj diz que a empreitada da Albânia consumiu 80% dos recursos do exército durante esse período. Construir bunkers era mais importante que cultivar alimentos. A linha oficial do partido, diz ele, era de que «a defesa era considerada o dever acima de todos os deveres, enquanto a agricultura era considerada uma questão para todos».

«Enver Hoxha diria que a fortificação do país era o investimento mais eficiente do suor de nossa nação, e cada gota de suor consumida pelas fortificações é uma gota de sangue salva no campo de batalha.»

O trabalho tinha de ser realizado em todos os tipos de clima, as partes mais pesadas puxadas por tratores ou por caminhões soviéticos Zil da Segunda Guerra Mundial, e depois montadas à mão. «Quando o tempo estava bom, podíamos construir até quatro bunkers por dia», diz Duraj, «mas em condições precárias… às vezes, víamos os caminhões Zil atolados na lama até o chassi, e então precisávamos de um trator para tirar o caminhão dali. Também tivemos acidentes com guindastes caindo, matando pessoas acidentalmente».

O museu BunkArt, em Tirana, estimou que o programa de construção dos bunkers custou 100 vidas por cada ano durante as construções. Duraj diz que esses números são muito altos, mas concorda que houve acidentes fatais.

Mais de 25 anos após a queda do regime comunista, Duraj teve bastante tempo para refletir sobre o valor estratégico da bunkerização promovida por Hoxha. A Albânia estava realmente sob uma ameaça tão grave que precisava construir tantos? «Se você me perguntar, foi exagerado. Construímos bunkers no topo das montanhas, nas rochas. Em lugares pelos quais nem as cabras passariam.»

Resquícios
Os bunkers nasceram em fábricas como a que eu e meu guia, Caushi, visitamos em Gjirokaster.

Há poucos sinais dela, contudo, e nada parece lembrar os velhos tempos quando cúpulas de concreto eram produzidas ali 24 horas por dia. A fábrica foi demolida há muito tempo, deixando pouco a não ser entulho e pórticos suspensos. É uma imagem da decadência pós-comunista.

Perto da fábrica em ruínas está Adi, que administra um ferro-velho local, cheio de pilhas de metal triturado e operários com fuligem nos rostos queimando fios de plástico. Quando Adi comprou o terreno, acabou herdando a antiga fábrica nas proximidades. É um pouco irônico – um dos trabalhos de Adi é desmantelar os bunkers.

Às vezes, ele e seus operários viajam para as montanhas que se erguem sobre Gjirokaster, a quatro horas de carro. São necessários 10 deles trabalhando um dia inteiro para desmantelar um bunker.

Adi, de 38 anos, lembra dessas estruturas quando era menino. «Brincávamos em cima deles, jogamos futebol como se nossos adversários fossem alemães. Agora, encontramos as lembranças daqueles dias e, graças a Deus, não entramos em guerra.»

Um dos empregados de Adi, Nico, também se lembra de ter viajado para as montanhas com seus amigos e brincar nos bunkers, muito tempo depois de o regime comunista que os construiu desaparecer na história. Naquela época, os bunkers já tinham sido colonizados por cobras, embora Nico esteja convencido de que um dia encontrará um cheio de tesouros.

«Tesouro» de um tipo diferente apareceu em um bunker em 2004. Cerca de 16 toneladas de botijões de gás mostarda foram encontrados em um bunker a apenas 40 quilômetros de Tirana – os EUA tiveram de pagar ao governo albanês cerca de US$ 20 milhões (R$ 80 milhões em valores atuais) para descartar as armas com segurança.

Enquanto Adi ganha dinheiro desmantelando os bunkers para usar o metal e o concreto em outros tipos de construção, a Albânia não tem o dinheiro – ou a mão de obra – para removê-los em larga escala. Os QZs e os PZs, ao contrário, permanecem como reminiscências de algum exército há muito vencido.

Os albaneses deram novos usos a essas lembranças silenciosas do passado comunista do país. Nas áreas rurais, os bunkers foram transformadas em abrigos de animais ou usados para armazenamento de alimentos.

Outros, brilhantemente pintados, tornaram-se partes de parques infantis do centro da cidade. As estruturas que antigamente guardavam o litoral ensolarado da Albânia foram, em alguns casos, transformadas em pizzarias, cafés e bares improvisados, embora muitos também tenham sido removidos – frequentemente usando tanques aposentados como veículos de reboque – para abrir caminho para novos empreendimentos.

Turismo
Mas os bunkers continuam a atrair estrangeiros, tanto turistas quanto artistas, desejosos de registrá-los para a posteridade.

David Galjaard é um fotógrafo holandês que viajou várias vezes à Albânia para filmar os bunkers.

«Estava trabalhando em uma série sobre bunkers da Guerra Fria na Holanda, quando um jornalista do jornal para o qual ambos trabalhamos (NRC Handelsblad) me disse: ‘Ei! Se você gosta tanto de bunkers, deve ir para a Albânia «, diz Galjaard por e-mail. «Quando li sobre os bunkers e sua história, mal podia esperar para ir. Era dezembro naquela época. Então, esperei até a neve derreter (na Albânia) e entrei no meu carro.»

«Antes de chegar pela primeira vez à Albânia, imaginei um país cheio de cicatrizes. Sentia pena dos albaneses por eles terem essa recordação viva do difícil período comunista. Mas quando cheguei e perguntei sobre os bunkers, as pessoas deram de ombros. Não tinham problemas com isso, a menos que essas estruturas atrapalhassem suas vidas.»

As três viagens de Galjaard à Albânia tornaram-se o projeto de fotos Concresco, que foi publicado como livro em 2012.

«A maneira como o povo albanês lida com os bunkers diz muito sobre o país», diz Galjaard. «O modo como eles são ignorados, ou usados para outro fim, ou destruídos. É por isso que os usei como uma metáfora visual para não só contar uma história sobre os bunkers, mas sobre o próprio país.»

«Na maioria dos países, grande parte dos vestígios da Guerra Fria nunca foi visível para a maioria das pessoas. O que é único na Albânia é que a paranóia e a xenofobia daquela época sempre foram e ainda são claramente visíveis.»

Caushi ganha a vida, em parte, apresentando essas relíquias da Guerra Fria como parte do que torna a Albânia única. Ele administra uma empresa de turismo, a Albanian Trips, que inclui visitas a algumas das memórias mais icônicas da paranóia de Hoxha.

«Eu e meu amigo suíço Didier Ruef, que é fotógrafo, fizemos uma viagem de três semanas pela Albânia, em busca dos bunkers», diz Caushi. «Encontramos vários que estão sendo usados como casas, abrigos para animais, mas também muitos bem localizados, perto da praia ou das montanhas. Didier já havia me dito que achava que a Albânia se tornaria um grande destino turístico um dia e que os bunkers desempenhariam um papel nisso. Mas nunca lhe dei muita atenção.»

«A ideia ganhou força depois que passei a me concentrar em viagens e turismo, começando por volta de 2007, em tempo integral. As pessoas não paravam de perguntar sobre os bunkers. Comecei a conhecer construtores, autores, recicladores, demolidores, coletores de sucata e a quantidade de informações se tornou cada vez mais importante.»

Caushi e eu passamos alguns dias viajando pelo país, encontrando inúmeros bunkers nas estradas de Tirana até Gjirokaster. Na última década, ele desenhou um mapa dos exemplos mais simbólicos. Mas, pouco a pouco, os bunkers de Hoxha estão desaparecendo.

«Não sobraram muitos em relação a 15 anos atrás», diz ele. «Foram demolidos. Tanto para sucata ou porque ocupam espaço.»

Ele costuma levar turistas para os bunkers que ficam dentro do cemitério principal de Tirana. Ali, eles parecem se misturar aos túmulos e lápides. Outros só podem ser alcançados por barco. Depois, há os túneis, as cavernas subterrâneas e as áreas de armazenamento esquecidas após a Guerra Fria, sendo agora redescobertas à medida que o turismo abre o país.

«Há um enorme em um local que não vou contar: está cheio de uma colônia de milhares de morcegos. Muito estranho entrar nele. Você caminha sobre uma espessa camada de excremento de morcego e eles voam por toda a sua cabeça e, às vezes, vêm tocar o seu cabelo. Na entrada, podem-se ver slogans relacionados à propaganda stalinista e conselhos técnicos sobre como atirar no inimigo que um dia tentará invadir.»

Caushi, que deixou a Albânia na década de 1990 para estudar na Suíça antes de retornar alguns anos depois, tem sentimentos contraditórios sobre o legado duradouro de Hoxha. «Eu odeio e amo eles (bunkers) ao mesmo tempo. Eles são estranhos e se tivesse algum poder para impedir sua construção, certamente teria feito isso. Mas como estão aqui e pagamos com tanto sacrifício por eles, acredito que a melhor maneira de punir quem nos forçou a pagar e trabalhar para construí-los é dar uma nova roupagem a essas estruturas, de forma a satirizar o projeto original: afastar o inimigo. Vamos tentar atrair o ‘inimigo’ para eles.»

«É uma abordagem tragicômica e, acredito, saudável. Da barreira original que deveriam ter sido eventualmente, podem se tornar abrigos para o ‘inimigo’ vir, se divertir, explorar e aprender com eles. Aprenda com esse grande erro e tente não deixar que isso aconteça novamente no futuro.»

Para aqueles que os construíram, os bunkers talvez representem os anos perdidos decorrentes da paranóia de Hoxha. Ao visitar a fábrica abandonada em Gjirokaster, Caushi começa a conversar com um grupo de operários que constroem um muro perto dali. Um deles, Isa, diz a ele que o molde de ferro usado para construir as cúpulas do bunker é agora um tanque de água no jardim do vizinho de sua irmã. Ele nos convida a subir e tirar uma foto.

Bebendo um destilado caseiro, ele e seu cunhado relatam os incontáveis verões em que, servindo ao Exército, construíam bunkers arrastando de placas de concreto pesando 40 kg cada uma.

«Enquanto o resto do mundo construía foguetes para enviar homens à Lua, construíamos bunkers», resmunga o cunhado. «Que loucura.»

Fonte: BBC Brasil

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